Créditos de IBS e CBS no split payment: como funciona

A introdução do split payment pela Lei Complementar nº 214/2025 mudou a forma de recolher os tributos sobre o consumo. O débito de IBS e CBS será retido no momento da venda, antes de o dinheiro chegar à empresa.

Nesse cenário, surge uma dúvida central para o setor farmacêutico: se o débito é pago automaticamente, como ficam os créditos de IBS e CBS no split payment?

A resposta é que o crédito continua existindo, mas a forma de utilização muda. Ele passa a ser controlado em um ambiente nacional, digital e integrado, com regras específicas para compensação e devolução.

A lógica do split payment na prática

O split payment é um mecanismo de pagamento fracionado. Quando a venda ocorre, o sistema separa automaticamente a parte do governo.

Exemplo simplificado:

  • a farmácia vende um medicamento por R$ 100,00;
  • o sistema identifica que R$ 25,00 correspondem a IBS e CBS;
  • esses R$ 25,00 são enviados direto ao governo;
  • a farmácia recebe R$ 75,00 líquidos.

Esse débito de IBS e CBS está quitado no exato momento da liquidação financeira. A empresa não precisa gerar guia nem recolher o imposto em data futura.

O crédito continua existindo

Mesmo com o split payment, o crédito de IBS e CBS não desaparece. Ele continua sendo gerado nas entradas, como ocorre hoje com outros tributos.

Na compra com o distribuidor:

  • a nota fiscal vem com IBS e CBS destacados;
  • o crédito é registrado no sistema nacional de apuração;
  • esse valor passa a compor o saldo credor da farmácia.

A diferença é que, como o débito da venda já foi pago pelo split payment, não haverá débito suficiente para absorver todo o crédito em muitas operações com consumidor final.

Comparando antes e depois da Reforma

Antes da Reforma, com ICMS, PIS e COFINS, a lógica era baseada em créditos e débitos apurados periodicamente. A empresa registrava créditos das entradas, calculava débitos das saídas e recolhia apenas a diferença.

Com o modelo de créditos de IBS e CBS no split payment, o fluxo muda. A empresa continua registrando crédito na compra, mas o débito de IBS e CBS nas vendas ao consumidor é pago automaticamente. O crédito passa a ficar acumulado no sistema, sem débito equivalente para compensar nas vendas de varejo.

O que acontece com o crédito acumulado

O crédito não é perdido e não é desprezado pelo sistema. A Lei Complementar nº 214/2025 prevê mecanismos claros para tratar os créditos acumulados.

Esses créditos podem ser:

  • compensados com débitos de IBS e CBS de outras operações;
  • utilizados em situações específicas previstas na lei;
  • ressarcidos em dinheiro, em casos de acúmulo estrutural.

Exemplo prático:

  • a farmácia compra R$ 10.000 em mercadorias, com 25% de IBS e CBS;
  • gera um crédito de R$ 2.500;
  • vende toda a mercadoria ao consumidor final com split payment;
  • o débito das vendas já foi pago automaticamente;
  • sobra um crédito de R$ 2.500 no sistema.

Esse crédito poderá ser compensado em outras operações ou devolvido em dinheiro, conforme as regras dos artigos 47 a 56 da lei.

Circulação digital dos créditos de IBS e CBS

O sistema do IBS e CBS será nacional, digital e integrado entre União, Estados e Municípios. Cada compra e venda será registrada no ambiente de apuração.

Esse ambiente irá:

  • reconhecer o crédito do comprador na entrada;
  • registrar o débito do fornecedor na saída;
  • cruzar automaticamente as informações;
  • calcular os saldos devidos e credores.

O crédito deixa de ser um registro isolado na contabilidade da empresa e passa a ser um crédito eletrônico, rastreável e validado em tempo real. O contribuinte poderá acompanhar esse saldo em portais específicos do IBS e da CBS.

Para empresas do setor farmacêutico que já acompanham o tema da Reforma Tributária no setor farmacêutico, essa mudança representa um novo nível de transparência e controle.

O desafio do acúmulo de créditos no varejo farma

No varejo farmacêutico, a maior parte das vendas é destinada ao consumidor final. Nessas operações, o débito de IBS e CBS será pago pelo split payment.

A consequência prática é:

  • a farmácia gera crédito na compra;
  • quita o débito da venda automaticamente;
  • acumula saldos credores.

Esse cenário é semelhante ao que hoje ocorre com PIS e COFINS monofásicos, mas com uma diferença importante: os créditos de IBS e CBS no split payment serão reconhecidos de forma centralizada e com prazos mais claros de devolução.

Redes com grande volume de operações precisarão revisar o modelo de negócios, a formação de preços e a estratégia de fluxo de caixa. O tema se conecta diretamente com a necessidade de planejamento abordada em conteúdos como o curso sobre Reforma Tributária no setor farmacêutico.

Devolução e pagamento automático de créditos

A lei também dialoga com os mecanismos de pagamento automatizado. Os artigos 29 e 30 tratam da devolução de valores pagos a maior e do uso de contas bancárias ou de pagamento para depósitos diretos.

Na prática, isso permite que créditos líquidos e certos sejam devolvidos em dinheiro, sem processos manuais demorados. A devolução tende a ocorrer por meio de depósito direto na conta do contribuinte, associado ao sistema de apuração.

Esse modelo aproxima os créditos de IBS e CBS no split payment de uma espécie de “cashback tributário empresarial”, em que o sistema identifica o saldo credor e realiza a devolução de forma automática.

Resumo prático dos créditos no split payment

  • a compra gera crédito de IBS e CBS;
  • a venda com split payment quita o débito automaticamente;
  • a farmácia acumula créditos quando vende ao consumidor final;
  • os créditos podem ser compensados ou devolvidos em dinheiro.

Essa dinâmica exige uma gestão ativa dos créditos e uma visão integrada da tributação, especialmente em cadeias com margens apertadas e concorrência intensa.

Conclusão

Os créditos de IBS e CBS no split payment não desaparecem. Eles continuam sendo um pilar da não cumulatividade, mas passam a ser administrados em um ambiente digital, com possibilidade de compensação e devolução automática.

Para o setor farmacêutico, o principal impacto será a combinação de maior controle e transparência dos créditos, acúmulo estrutural de saldos credores nas vendas ao consumidor e necessidade de gestão de fluxo de caixa e de acompanhamento do sistema de restituições.

Quer preparar sua empresa para a Reforma Tributária e entender na prática o efeito do split payment na sua cadeia de preços? Fale com a Simtax.

Contato para informações sobre Ferramentas, Consultoria, Mentoria ou Treinamento:

Compartilhe:

Posts relacionados: